terça-feira, fevereiro 07, 2006

A Carta!!!



Lisboa, Portugal
Querido filho:
Escrevo-te esta linha para que saibas que o pai está vivo. Vou escrever bem devagar, pois sei que não consegues ler depressa. Caso estejas sem tempo de escrever ao pai, manda uma carta dizendo que quando estiveres mais tranqüilo vais mandar notícias. Se tu viesses hoje aqui em casa não irias reconhecer mais nada, porque mudamos de casa. Temos agora uma máquina de lavar roupa. Mas não trabalha muito bem. Na semana passada tua mãe pôs lá 14 camisas, apertou o botão e nunca mais as vimos.Vai ver que esta marca Hydra não é das melhores... Tua irmã Maria está grávida. Mas ainda não sabemos se vai ser menino ou menina. Portanto, não podemos te dizer se tu vais ser tio ou tia... Teu tio arranjou um bom emprego.Tem 12.300 homens abaixo dele. É o responsável pelo corte da grama do cemitério. Quem anda sumido é teu primo Venâncio, que morreu no ano passado. Lembra-te do teu tio Joaquim? Então, afogou-se no mês passado num depósito de vinho. Oito compadres dele tentaram salvá-lo, mas o tio lutou bravamente contra eles. O corpo foi cremado há duas semanas. Levaram oito dias para apagar o incêndio.

Teu irmão João continua o mesmo de sempre. Semana passada fechou o carro com as chaves dentro. Perdeu um tempão indo até a casa pegar a cópia da chave, para poder tirar-nos todos de dentro do automóvel. Estava um calor de rachar. Esta carta te mando através do Gabriel, que vai amanhã para aí. A propósito,será que podes pegá-lo no aeroporto? Lembrei de uma coisa importante. Terás um problema para falar com o pai, caso decidas escrever-me. Não sei o endereço desta casa nova. A última família que morou aqui, antes de nós, também era portuguesa e levou a placa da rua e o número da casa para não precisar mudar de endereço. Se encontrares a Teresa, dê-lhe um alô da minha parte. Caso não a encontres, não precisas dizer nada.
Adeus.
Teu pai que te ama.
Manoel da Alcova

P.S.: Ia mandar-te 2000 escudos, mas fica para outra vez. Já fechei o
envelope.

Profissional Gabaritada



Uma mulher chamada Anne foi renovar a sua carteira de motorista.
Pediram-lhe para informar qual era a sua profissão.
Ela hesitou, sem saber bem como se classificar.
"O que eu pergunto é se tem um trabalho", insistiu o funcionário."
Claro que tenho um trabalho", exclamou Anne. "Sou mãe".
"Nós não consideramos 'mãe' um trabalho. Vou colocar Dona de casa", disse o funcionário friamente.
Não voltei a lembrar-me desta história até o dia em que me encontrei em situação idêntica...
A pessoa que me atendeu era obviamente uma funcionária de carreira, segura,eficiente, dona de um título sonante.
"Qual é a sua ocupação?" Perguntou.
Não sei o que me fez dizer isto; as palavras simplesmente saltaram-me da boca para fora:
"Sou Doutora em Desenvolvimento Infantil e em Relações Humanas."
A funcionária fez uma pausa, a caneta de tinta permanente a apontar não ouviu bem...
Eu repeti pausadamente,enfatizando as palavras mais significativas.
Então reparei, maravilhada, como ela ia escrevendo, com tinta preta, no questionário oficial.
Posso perguntar, disse-me ela com novo interesse, "o que faz exatamente?"
Calmamente, sem qualquer traço de agitação na voz, ouvi-me responder:

"Desenvolvo um programa a longo prazo (qualquer mãe faz isso), em laboratório e no campo experimental (normalmente eu teria dito dentro e fora de casa). Sou responsável por uma equipe (minha família), e já recebi quatro projetos (todas meninas). Trabalho em regime de dedicação exclusiva (alguma mulher discorda???), o grau de exigência é em nível de 14 horas por dia (para não dizer 24 horas).
Houve um crescente tom de respeito na voz da funcionária que acabou de preencher o formulário, se levantou, e pessoalmente me abriu a porta.
Quando cheguei em casa, com o título da minha carreira erguido, fui recebida pela minha equipe: - uma com 13 anos, outra com 7 e outra com 3.
Do andar de cima, pude ouvir o meu novo experimento (um bebê de seis meses), testando uma nova tonalidade de voz.
Senti-me triunfante.
Maternidade... que carreira gloriosa!
Assim, as avós deviam ser chamadas: "Doutora-Sênior em Desenvolvimento Infantil e em Relações Humanas".
As bisavós: "Doutora- Executiva- Sênior".
E as tias: "Doutora - Assistente".
Mande isto às mães, avós, bisavós e tias que conheças.
Uma homenagem carinhosa a todas as mulheres, mães, esposas, amigas, companheiras.
Doutoras na Arte de fazer a vida melhor !!!
"Somos do tamanho dos nossos sonhos."

Fernando Pessoa